Estudos comprovam que transmissão por via oral é a grande responsável pelo crescimento da doença de Chagas no Brasil. Vigilância Sanitária é capaz de fiscalizar todo o mercado?
Você já parou para pensar em como deveria ser a higeanização ideal para aquela pasta de açaí que ganhou espaço na preferência do brasileiro? Não? Contudo, estudos mostram que é importante ficar atento, já que levantamentos desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) descobriram que o açaí pode conter, mesmo congelado, o protozoário Trypanosoma cruzi, responsável pela transmissão da doença de Chagas.
O médico infectologista do Hospital Felício Rocho, Adelino Melo Freire Jr., também afirma que a recomendação dos órgãos de saúde é que alimentos sejam pasteurizados (processo utilizado em alimentos para destruir microrganismos patogênicos). “Isso inviabiliza o parasita, o Trypanosoma, que causa a doença de Chagas, e só seria eliminado pela pasteurização. Eu particularmente passei a tomar açaí de casas maiores. Mudei meu hábito e perguntei algumas vezes se o açaí era pasteurizado. Eu não quero ter o risco de me contaminar e tenho medo”, alerta.
O medo do médico tem uma razão clara, já que, com os avanços tecnológicos e evolução de moradias, as casas de pau-a-pique se tornaram raridades. Dessa forma, a transmissão oral passou a ser a maior forma de transmissão da doença. Para se ter uma ideia, de acordo com dados apresentados pelo Instituto Oswaldo Cruz, hoje, mais de 70% dos casos agudos de doenças de Chagas, no Brasil, são resultados de transmissão alimentar. Artigos científicos revelam ainda que pacientes infectados por essa forma desenvolvem sintomas graves, como edema de face, hemorragia e dor abdominal, além do comprometimento do coração, que também ocorre na forma clássica da doença. “O barbeiro vive na palmeira de açaí, como ele vive na casa de pau-a-pique. Na hora de colher o fruto e de amassar, ele [o barbeiro] vai junto e é triturado”, explica o médico.
A Chagas
A transmissão ocorre por meio de contato com as fezes de barbeiros contaminados, pela pele ou por via oral. Por muitos anos, a doença de Chagas foi epidêmica em regiões mais pobres do país. “O barbeiro vem, pica a pessoa e elimina as fezes, que contém o parasita Trypanosoma cruzi. Essa é a forma tradicional descoberta há quase 100 anos, por Carlos Chagas. Mas, com a evolução tecnológica, a gente conseguiu eliminar muito isso. No entanto, ainda existem casos no interior e em algumas regiões do Brasil”, alerta.
O açaí industrializado deve possuir registro no Ministério da Agricultura, e a polpa fresca possuiu um risco maior de contaminação. Na Região Norte do Brasil, é possível encontrar o fruto em feiras e mercados in natura, sem passar pelos processos de industrialização. Por isso, é bom lembrar a turistas e moradores que o consumo de açaí no Norte deve ser feito mediante a certificados da Vigilância Sanitária. E no caso das opções industrializadas, o processo de pasteurização é fundamental.
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Fonte: Médicos Sem Fronteiras.