8 de outubro de 2024

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121 – CULTURA & ARTES: Beleza e resistência

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Redação

Foto: Marlene Silva/ Pablo Bernardo

POR Lourenna Rodrigues

A jornalista e cineasta mineira Elaine do Carmo apresenta o curta-metragem Marlene Silva Dança o Mundo, um registro histórico da coreógrafa, bailarina, cantora, percussionista, pioneira da dança afro, militante do movimento negro, pesquisadora e professora de teoria musical, conhecida como Dama da Dança Afro-Brasileira, Marlene Silva. A artista nasceu em Belo Horizonte em de junho de 1937 e, ao longo dos 83 anos de vida, construiu um grande legado artístico e social. Ocupou espaços e abriu portas na cena cultural.

Marlene começou a vida artística no Ballet Folclórico Mercedes Baptista, do qual fez parte por 15 anos. Seu falecimento foi em 2020, e o curta-metragem foi o primeiro registro imagético da biografia de uma mulher que contribuiu de modo grandioso para a cultura e artes mineira e nacional. O filme foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc.

Analisando a obra e o acervo pessoal de Marlene, Elaine comenta os desafios afetivos que a profissão e a vida lhe trouxeram. Mãe de cinco filhos, a artista se desdobrou entre o profissional e a maternidade. “Ela foi uma mulher negra retinta, cheia de vida e de alegria, que enfrentou o racismo como aluna, professora, coreógrafa, tentando viver de uma arte de origem negra com o que ela tinha de entendimento e conhecimento da identidade africana. Além disso, o financeiro também era desafiador, já que ela investia todos os recursos na produção artística, montando espetáculos de maneira grandiosa, com o objetivo único de proporcionar cultura e aprendizado”, ressalta.

Marlene Silva se tornou para a cultura afro-nacional e internacional um ícone com uma característica ímpar, que é ser docente, já que, além de produzir arte, ela ensinava. Esse processo de artista e professora Marlene exercitou em todos os lugares que passou, como nos Estados Unidos e na Europa. “A paixão por transmitir o conhecimento foi a grande diferença para o movimento negro, uma vez que, nas culturas afro, é raro encontrarmos documentos do que foi produzido. Na sociedade pós-moderna, a oralidade não tem a mesma força que a escrita, o registro material. Marlene tinha uma série de reportagens, o próprio clipping e um acervo que ela mesma gerenciava”, cita Elaine.

Lendária, na década de 80, a artista conseguiu abrir a sua própria escola dedicada à dança afro em um bairro na Zona Sul de BH. Marlene Silva criou um novo conceito artístico reverenciando a identidade negra, que dançava sob os três pilares: coordenação, expressão e ritmo. Com uma postura neutra, já que ao longo da vida foi uma mulher de várias crenças, mesmo quando as religiões de matriz africana não eram mais o seu sagrado, ela respeitou e entendeu as manifestações de fé como um bem patrimonial, uma lição sobre a diversidade da diáspora negra, o respeito e a criação, sem abandonar a identidade artística.

O legado de Marlene Silva é sobre os corpos negros poderem dançar o que escolherem, a beleza da cultura afro, a técnica e os espetáculos e coreografias atemporais. Além disso, os milhares de alunos que ela formou e as pessoas que foram conscientizadas acerca do tema estiveram com ela num momento em que não havia letramento racial ou Estatuto da Igualdade Racial, e Marlene se manteve firme, numa militância solitária, porém eficiente, transmitindo conhecimento do que ela entendia e pulsava como África nela.

Dentre as produções de destaque da artista estão: a coreografia do filme Xica da Silva, de Cacá Diegues, protagonizado por Zezé Motta, em 1976; o espetáculo Raízes da Nossa Terra Kizomba e foi responsável por impulsionar o Carnaval de rua em Belo Horizonte. O curta-metragem está disponível na plataforma de streaming EMCplay e pode ser assistido gratuitamente.

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