POR Luiz Gustavo Soares
Foto: Freepik
Os anos vão passando e, de repente, chega a famosa idade da vista cansada ou dos óculos de leitura. Os 40 anos podem marcar a vida de uma pessoa de diversas maneiras diferentes, mas, na maioria delas, acontece uma mudança na visão de perto que impacta diretamente na autoestima das pessoas. Necessitar de óculos pequenos de leitura, igual ao de vovós, é entregar que a idade chegou. Essa falha na visão de perto acontece devido ao enfraquecimento dos olhos para acomodarem a visão nas diferentes distâncias.
O foco da visão é responsabilidade de ajustes que o cristalino faz, mas que, com a idade, ele vai perdendo sua elasticidade; e a visão de leitura começa a ficar prejudicada. Esse processo de enfraquecimento dos músculos ciliares e do cristalino é uma condição comum no processo de envelhecimento do olho humano. Algumas pessoas acham que é uma doença, mas, longe de ser isso, é apenas uma nova condição de um órgão que, na maior parte do tempo, não deu trabalho.
Para corrigir essa falta de conforto para ler e enxergar de perto, existem basicamente dois tipos de lentes: as lentes que corrigem somente a visão de perto e as lentes progressivas – estas que se adequam a todas as distâncias. A primeira irá suprir a necessidade dos olhos de enxergar a uma distância média de 40cm; e o que passar dessa distância ficará completamente desfocado, sendo preciso a pessoa retirar os óculos para conseguir ver bem.
Já as lentes progressivas ou multifocais têm a capacidade de, ao longo da lente, ter diferentes pontos focais, fazendo com que a imagem chegue na retina (fundo do olho), corrigindo as diferentes distâncias da visão. A pessoa pode estar lendo um livro e, com uma simples elevação dos olhos, enxergar para longe, sem a necessidade de retirar os óculos. Para conseguir fazer essas correções, as lentes progressivas (ou multifocais) têm algumas características muito específicas em sua fabricação e usabilidade. Exatamente por isso, vamos explorar um pouco mais esse universo – que às vezes parece bem complicado.
Assim que acaba o exame com o oftalmologista, e o médico indica as lentes multifocais para seu paciente, começa uma guerra interna na pessoa. Logo de início acontece uma resistência em ter que usar os óculos multifocais, pelo fato de não querer revelar a idade. Outra coisa que ocorre bastante é o medo de se comprar uma lente multifocal e não se adaptar. Mas vamos entender um pouco mais de como esse mito (medo) começou.
Assim que foram lançadas, as lentes multifocais eram lentes com a capacidade de corrigir os diferentes graus em uma única lente, sem divisórias visíveis a olho nu. São lentes que: na parte superior, a pessoa consegue enxergar de longe; no meio, a pessoa consegue ver o campo intermediário; e, na parte mais inferior das lentes, fica localizado o grau de perto.
As primeiras lentes multifocais foram patenteadas em 1951, mas sofreram melhorias para chegarem aos consumidores em 1959. Vamos nos lembrar um pouco de quais tecnologias tínhamos nessa época. Na exploração espacial, foi lançado, em 1957, o primeiro satélite a orbitar a Terra, o Sputnik, e o primeiro ser vivo a ir ao espaço, a cadela Laika. O termo laser foi utilizado pela primeira vez em 1959 por um cientista americano. Os telefones eram de fio, e os discadores eram circulares em 1958. As televisões eram em preto e branco e, em 1959, foi ao ar, aqui no Brasil, o primeiro videotape, pois as programações anteriores eram todas ao vivo.
Acho que deu para a gente entender um pouco mais sobre a época em que as lentes multifocais começaram a ser comercializadas. Pois bem, como toda tecnologia nova, elas precisam ser aperfeiçoadas constantemente. Os primeiros usuários dessas lentes conseguiram perceber imediatamente seus benefícios, e as vendas e produção foram um sucesso, espalhando-se pelo mundo rapidamente. Essa primeira lente foi a famosa Varilux, que até hoje é sinônimo de lente multifocal.
Aqui no Brasil, a chegada das lentes multifocais se deu ao longo da década de 60, com grandes investimentos em produção e distribuição. Com o aumento dos usuários de lentes multifocais, começaram também a surgir alguns problemas de não adaptação aos óculos, na maioria dos casos, devido a uma falha na tomada das medidas e na falta de uma clara explicação ao usuário de como as novas lentes funcionam. Com uma rápida crescente nas vendas de lentes multifocais, não deu tempo para um treinamento adequado dos vendedores das ópticas, que, por vezes, cometiam erros que impactavam diretamente na dificuldade de adaptação dos clientes à nova tecnologia das lentes multifocais.
Em uma roda de conversa em família, quantas vezes você já ouviu alguém falando que as lentes multifocais te deixam tonto e que fazem você ficar caindo no chão? Se você acabou de fazer o exame oftalmológico e descobriu que terá que usar essas lentes, sempre aparecerá um tio ou tia dizendo para não fazer, porque “você não vai conseguir usar, vai ficar enjoado” e outras coisas.
O que, de fato, é mito e o que realmente pode acontecer? Como tudo que é novidade no nosso dia a dia, o uso de lentes multifocais requer, sim, um treinamento e uma adaptação por parte do usuário. Vou fazer uma pequena analogia com o caso de aparelhos dentários, que, no início, chegam até a ferir a boca, mas, com o tempo, passam despercebidos no nosso dia a dia. Assim também acontece com as lentes multifocais. Os olhos devem ser treinados para aproveitar os diferentes pontos focais que as lentes possuem e que darão mais conforto ao usuário.
Uma boa adaptação das lentes multifocais se deve por diversos fatores. Vou explicar alguns deles.
O primeiro passo para se adaptar bem a uma lente multifocal é a pessoa querer usar os óculos continuamente, pois os olhos e o cérebro se acostumarão mais facilmente com a nova visão e suas variações de foco. A escolha de uma armação perfeita – que se adapte ao rosto do usuário, apoiando devidamente sobre o nariz e possibilitando um alinhamento sincronizado entre os olhos e a posição central das lentes multifocais – ajuda muito no dia a dia.
Para conseguir fazer a progressão do grau de longe para o de perto, as lentes multifocais, na sua essência, perdem conforto de visão em suas periferias, tanto periferia nasal quanto temporal. Veja, na figura seguinte, o que isso significa:
As lentes multifocais possuem campo de visão confortável mais centralizado. O mercado hoje disponibiliza uma infinidade de opções de lentes em que esse campo de visão varia de tamanho. Explicando de maneira bem simples, quanto mais baratas forem as lentes, mais estreito é o campo de visão delas. As grandes indústrias de lentes possuem em seu portfólio uma grande variedade de lentes, que possibilitam ao consumidor escolher a que melhor lhe convém, alinhando o conforto visual com a condição que a pessoa quer investir nos óculos.
Fazer uma boa escolha das lentes é outro ponto importante para se conseguir uma adaptação perfeita dos óculos multifocais. Lembre-se de que uma boa escolha começa com a busca de um bom profissional óptico para lhe oferecer o que melhor te convém.
Existem, no mundo, grandes empresas de lentes oftálmicas. As principais são: Essilor, que é francesa; Hoya, que é japonesa; e Rodenstock e Zeiss, que são da Alemanha. Todas elas têm laboratórios de produção das lentes aqui no Brasil, o que facilita muito no que diz respeito ao prazo de entrega dos novos óculos. Todas essas indústrias investem milhões em desenvolvimento de novas tecnologias todos os anos, sempre buscando a melhora no conforto e ampliação da visão periférica nas lentes multifocais.