26 de julho de 2024

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EDIÇÃO 128 – CAPA: Está na hora de comprar um carro elétrico?

EDIÇÃO 128 - CAPA: Está na hora de comprar um carro elétrico?
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Redação

POR Fellippe Chiari*

Para esclarecer esta e outras dúvidas sobre o tema, convidamos o engenheiro eletrônico e especialista em automóveis Fellipe Chiari, que discorrerá sobre o assunto a seguir. Confira!

Os veículos elétricos e híbridos (HEV) são agora muito comuns e estão se tornando cada vez mais importantes na era do aquecimento global. No entanto, o carro elétrico não é uma tecnologia nova; é bastante antiga, mas infelizmente tem evoluído lentamente. Mesmo após décadas, ainda é necessário utilizar baterias de 500kg a 1.000kg para alcançar uma autonomia satisfatória. As redes elétricas de países de primeiro mundo não suportariam uma grande frota de carros elétricos, muito menos países em desenvolvimento.

Desvalorização do usado elétrico 

A maioria dos carros elétricos oferecidos atualmente não valem a pena. Mesmo para alguém que percorre 50 mil quilômetros por ano, não compensaria, pois, na revenda, esses carros desvalorizam consideravelmente. Além disso, para evitar o gasto de combustível, o custo inicial e o seguro são significativamente mais altos, o que deve ser considerado nesse contexto.

A notícia da venda pela Hertz de Teslas alugados impactou o mercado. A gigante do aluguel anunciou que está aumentando o tamanho da frota de veículos a combustão para o futuro. A empresa diz que está ajustando os números em suas frotas, devido ao prejuízo na revenda e no custo de manutenção dos EVs, o que significa vender um terço de sua frota de veículos elétricos e substituir esses carros por modelos a gasolina.

“Na revenda, esses carros [elétricos] desvalorizam consideravelmente.”

Ecologicamente incorreto 

Se todos os carros do mundo fossem elétricos, a quantidade de CO2 lançada na atmosfera continuaria praticamente a mesma. A maior parte das emissões de CO2 não provém dos escapamentos dos carros, mas sim das usinas termelétricas que queimam carvão – um dos combustíveis mais poluentes. Aproximadamente 40% da eletricidade mundial é gerada por usinas a carvão. Para fornecer a quantidade de energia necessária para uma frota mundial de 1 bilhão de carros, essa parcela de 40% de energia proveniente do carvão resultaria em aproximadamente 3 bilhões de toneladas adicionais de CO2 lançadas na atmosfera anualmente.

Estudos realizados por importantes montadoras, utilizando um modelo de carro elétrico e o mesmo modelo a combustão, revelaram que o veículo elétrico pode poluir até 70% a mais ao longo de seu ciclo de vida total se for utilizada energia não limpa (não renovável) para a recarga. Por outro lado, se a energia utilizada for limpa, os veículos elétricos são mais eficientes, liberando cerca de 32 toneladas a menos de CO2 na atmosfera em comparação a um veículo convencional. Se a matriz energética for menos limpa, um veículo elétrico pode exigir 160 mil quilômetros para se tornar mais ecológico do que um carro a combustão convencional. Além disso, um veículo convencional pode se beneficiar se usar combustível verde, como o etanol, ou alguma outra tecnologia futura.

As alterações climáticas emergiram como uma das questões mais críticas enfrentadas pela sociedade, e a necessidade de soluções sustentáveis e amigas do ambiente para o transporte de pessoas e produtos atingiu um ponto crucial. Costumo dizer que o mundo está superpovoado. Imagino daqui a 10 anos… 

É preciso adotar um controle de natalidade muito antes de pensar em carros elétricos. Mas, voltando a eles, mesmo que o planeta pudesse absorver mais poluentes no seu frágil ecossistema, a escassez de petróleo natural é inevitável, uma vez que a procura continua a aumentar a um ritmo sem precedentes. O abastecimento mundial de petróleo convencional ficará em breve esgotado, e os países produtores de petróleo não poderão satisfazer a procura se o consumo continuar no seu ritmo atual.

Pouca evolução 

Como eu disse anteriormente, não há nada que torne o carro elétrico uma nova invenção, mas sim apenas uma nova aplicação de motores e circuitos elétricos em um veículo – exceto as funções de automação, mídias, displays… Contudo, na parte motriz, circuitos conversores, inversores, carregadores, motores de corrente alternada já existem há anos, apenas diferem porque hoje são bem menores, com um layout mais moderno, mas o princípio de funcionamento eletrônico é o mesmo. As baterias, sim, tiveram avanços.

Baterias explosivas 

Os carros elétricos são mais baratos de manter, porque têm menos peças móveis que podem desgastar e quebrar; e são considerados mais confiáveis por esse motivo. Em termos de desempenho, um motor elétrico produz torque instantâneo, resultando em uma aceleração muito mais rápida do que pode ser alcançada até mesmo no veículo mais rápido movido a combustão. Entretanto, o grande problema dos carros elétricos são as baterias. Elas avançaram muito em relação às baterias de chumbo ou cobre, porém ainda estão longe de ser ideais. São grandes, pesadas e ocupam todo o assoalho do veículo

“O grande problema dos carros elétricos são as baterias.”

Baterias sempre foram o calcanhar de Aquiles de qualquer dispositivo no quesito peso e tamanho. Basta pensar em um iPhone. Se ele tivesse uma boa bateria, teria três vezes o peso e tamanho. As baterias atuais de lítio carregam mais rápido, duram mais e têm maior densidade de carga. Mas, por outro lado, são explosivas. Não são apenas inflamáveis, são explosivas mesmo, como a pólvora. Não se consegue interromper seu ciclo de explosão com água ou espuma. 

A bateria dos carros elétricos é composta por células e as células de pequenas baterias, como estas em formato de pilhas grandes. Se uma dessas pilhas explodir, vai acender o resto todo em cadeia. O controle de resfriamento da bateria não pode falhar; e, se ele falhar, a proteção que as desligará também não pode falhar. Além disso, se forem perfuradas, a explosão é imediata. 

Apesar de seu custo ter caído em comparação com 30 anos atrás, as baterias de lítio representam de 50% a 60% do custo de produção do veículo. Se um veículo apresentar problema, o custo de reposição pode tornar inviável o reparo; e será mais um carro abandonado, gerando uma enorme quantidade de baterias no meio ambiente.

Qualquer bateria, seja ela convencional ou de lítio, que tenha ficado em estado de zero carga por muito tempo, ou repetidas vezes, certamente estará condenada ou terá sua vida útil diminuída. Como saberemos esse histórico ao comprar um carro elétrico usado?

Mercado incerto

Se o motor de combustão interna for realmente banido, as pessoas comprarão um carro antes do banimento e o usarão por 10 ou 20 anos. Então, o dinheiro investido nas fábricas terá sido em vão; e isso seria uma catástrofe econômica. Grandes montadoras, como a Mercedes e a Ford, preferiram abandonar o Brasil por conta dos custos. Uma montadora chinesa será assim também? Fica a dúvida para quem quiser correr o risco.

Hidrogênio, o combustível do futuro

Além dos carros elétricos, outra tecnologia tem ganhado espaço em diversos países: os motores a hidrogênio. O hidrogênio é uma alternativa viável à gasolina como combustível para veículos equipados com um motor de combustão interna. Ou seja, a mecânica é a mesma, porém, em vez de queimar diesel, gasolina ou etanol, utiliza-se do hidrogênio para seu funcionamento. 

O hidrogênio é o único combustível à base de água. Pode ser queimado em um motor de diversas misturas combustível-ar e reduz em praticamente zero a emissão de poluentes emitidos pelo escapamento do automóvel. Isto é, a combustão do motor não gera emissões de CO2.

Fellippe Chiari 

Engenheiro eletrônico, empresário e especialista em comercialização e manutenção de automóveis importados.

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