27 de julho de 2024

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ENTREVISTA: Gorete Milagres fala sobre os 30 anos de sua icônica personagem Filó; espetáculo comemorativo ocorre hoje (30) e no dia 03/02, em BH

ENTREVISTA: Gorete Milagres fala sobre os 30 anos de sua icônica personagem Filó; espetáculo comemorativo ocorre hoje (30) e no dia 03/02, em BH
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Redação

Foto: Filomena/ Leandro Furia

A atriz Gorete Milagres está de volta a Belo Horizonte – onde apresentou a Filomena pela primeira vez – para comemorar os 30 anos de sua icônica personagem. No espetáculo celebrativo, Filomena 30 Anos de Peleja, Filó, depois de ter sido empregada, diarista, microempresária e governanta, assume que não conseguiu se aposentar e está ali, no Teatro, para fazer o seu stand-up aproveitando a onda de um tempo  “onde todo mundo vira artista”. A montagem está na programação da  49ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança,  com ingressos a R$ 25. As apresentações ocorrem no Sesc Palladium nos dias  28 de janeiro, domingo, às 17h, e  30 de janeiro, terça-feira, às 20h; e no Teatro Sesiminas, dia 3 de fevereiro, sábado, às 20h. 

A personagem Filomena nasceu do universo caipira de Minas Gerais, mas é uma figura que cria identificação com o público de todas as regiões do país. Ela representa uma classe trabalhadora tipicamente brasileira: as empregadas domésticas.  Em seus 30 anos de existência, Filó se mostra uma mulher ingênua, doce, e que sempre fala o que pensa. É virgem, não entende piadas sexuais e, apesar da sua ingenuidade, é muito esperta com o seu jeito simplório. Ela é a autora do bordão de sucesso em todo o país: “Ô, coitado!”. 

Gorete Milagres, mineira de Conselheiro Lafaiete, é comediante, atriz graduada pelo Teatro Universitário da UFMG e roteirista de cinema graduada pela Universidade Anhembi, de São Paulo. Atuou em teatro, cinema, novelas e programas humorísticos como A Praça é Nossa e o Ô Coitado. Conversamos com Gorete para saber tudo sobre esse momento, e o resultado deste bate-papo você confere agora!

REVISTA EXCLUSIVE: São 30 anos de criação da personagem Filomena. Como está sendo essa celebração? 

GORETE MILAGRES: No palco, começando por BH, onde a minha carreira  começou. Já tenho agendadas quatro cidades: Santa Catarina, Fortaleza, Maceió e Ouro Preto. Celebrar com público e com fãs será um presente. 

“Celebrar com público e com fãs será um presente.”

RE: Conte um pouco do enredo do espetáculo. Qual a linha condutora dessa montagem? 

GM: Filó subirá no palco para narrar a saga dos 30 anos que ela saiu da roça, no interior de Minas. Ela assume que ali é um stand-up, que, depois de tantas lutas sem se aposentar, descobre que esta é uma forma de ela ganhar um extra. 

RE: Falando sobre a carreira, o que te levou a fazer comédia? 

GM: Os meus dramas. Todo comediante é muito dramático. Eu cresci num ambiente familiar de muito amor e muita dor. Foi uma época difícil no momento da falência do meu pai, que era fazendeiro e comerciante. Falir com 14 filhos não foi fácil para ele e para ninguém da família. Mas ver aquele ambiente hostil da infância e na pré-adolescência me transtornava. Eu sofria e, quando chegava uma criança, no caso, os meus sobrinhos, eu os fazia rir. Era uma palhaça. Com um mês de vida eu fui tia. E, na sequência, ganhei vários sobrinhos. E eu era menina franzina, com o apelido de “Mosquitinho Elétrico”. Era muito criativa. Dançava, criava histórias; e ser engraçada fez parte do meu kit de sobrevivência. Aprendemos, todos em casa, a sobreviver, uns com humor e outros com as repetições de padrões da sofrência e dos traumas. E, por incrível que pareça, hoje reúno causos engraçados dos meus pais, que também (de uma certa forma) foram ficando leves e transformaram a vida em comédias. Vide no meu Instagram, @goretemilagres, vídeos Eu & Eles. 

RE: Você é mineira. Criou e estreou a personagem Filomena em Belo Horizonte, que ganhou o Brasil. Quais são suas melhores memórias desses 30 anos? 

GM: Eu criei a Filomena na minha pré-adolescência, no interior de Minas. Me inspirei nas empregadas domésticas das fazendas dos meus avós paternos, maternos; e casa dos meus pais. Eu brincava com a personagem em festas de família e na minha casa com amigas, pós-baladas. Em Belo Horizonte, em 1991, criei o nome Filomena. Escrevi, numa sentada, o primeiro texto e montei o figurino completo para mostrar a personagem para um diretor de São Paulo, o Ivan Feijó, que ia dirigir uma opereta para a UFMG. Fiz um teste, no Teatro Universitário, onde eu cursava Teatro. Passei no teste, protagonizei a opereta Il Festino… Engavetei o texto da Filó e, em maio de 1994, participei do Fit BH, com um espetáculo de rua com o Grupo Atrás do Pano. Já formada, fui sugerida pelo grupo para fazer uma performance de uma mostra paralela ao FIT/BH no Bar do Lulu. Estreei a Filomena ali e nunca mais parei de trabalhar com a personagem. Fui para a TV. Fui campeã de audiência da TV brasileira e toquei o coração de milhões de brasileiros. Nesse período, tive duas filhas, que chegaram com o fruto do meu trabalho com a Filó – Alice hoje com 28 anos e Maria, 22 anos. Por meio das minhas conquistas com a personagem, pude ajudar familiares e dar uma velhice digna para os meus pais, que lutaram tanto para a sobrevivência dos seus filhos. Essas são as melhores memórias desses 30 anos!

“Fui campeã de audiência da TV brasileira e toquei o coração de milhões de brasileiros.”

RE: A Filomena está presente na memória afetiva de várias gerações. O que a leva a agradar todas as idades? 

GM: Acho que pela forma que humanizei a personagem. Criei uma identificação  gigante, pois o caipira é universal. Em qualquer parte do mundo tem um. Qualquer brasileiro conhece uma Filomena na vida. A Filó é doce, amorosa, naturalmente engraçada, faz rir e, desde a primeira apresentação pública, no Restaurante Rancho Fundo no Buritis, percebi que ela encantava crianças e adultos. Em 2020, antes da pandemia, quando me apresentei no Sesc Palladium, quase 26 anos depois da primeira aparição, o teatro continuava cheio de crianças, adultos e idosos. No final, as pessoas fizeram fila para tirar foto; e descobri que as crianças eram filhos, sobrinhos e netos de fãs, que assistem hoje os meus programas no meu canal no YouTube. A Filomena não tem censura. É um humor leve . Ela é genuinamente simples. A simplicidade é algo bom de se ver. Eu acho que esse é o motivo de eu conseguir atingir um público bastante diverso. 

“A Filomena não tem censura. É um humor leve. Ela é genuinamente simples.”

RE: Qual a relação das empregadas domésticas com a Filomena? E das patroas? 

GM: Com as domésticas, uma relação de identificação e pertencimento. A Filó é representante de uma classe trabalhadora de mulheres, tipicamente brasileiras, que demorou séculos a ser reconhecida como trabalhadora e ter seus direitos adquiridos.  No Brasil está cheio de domésticas que envelhecem sem nunca ter tido uma carteira assinada. No meu último aniversário, ganhei um samba de um músico da periferia de São Paulo Um samba lindo que resumiu lindamente a subserviência e a alegria de viver da Filó e de muitas outras domésticas. Lindo! Daí fui conversar com o autor do samba, o jovem Robert Giolo, e ele me disse que era filho de uma empregada doméstica e falou sobre esse pertencimento que a minha personagem trouxe para muitas domésticas. Fiquei feliz em ouvir tudo o que ele me disse. O samba será uma das trilhas do filme da Filó, que está no forno. Com relação às patroas, acho que toda patroa já teve uma nesga de uma Filomena em casa. Tenho fãs empregadas e patroas. 

RE: Ao longo dos 30 anos, o serviço doméstico, assim como os direitos trabalhistas e a economia mudaram. A Filomena teve esse papel de também acompanhar essas mudanças? 

GM: Sim. Antes da PEC das domésticas, o serviço doméstico estava em ascensão. Muitas domésticas estão se especializando, fazendo cursos de culinária, copeiras e governança. Então, a Filomena evoluiu. Eu comemorei os 18 anos da personagem com o espetáculo Filódáemprego.com. A Filomena abriu a sua própria agência virtual com um filho de uma ex-patroa e ia nos teatros lotados para captar clientes: patrões e empregadas. [Risos] Depois da PEC, muitos patrões e patroas dispensaram suas funcionárias, alegando que os impostos encarecem os serviços. Transformaram as suas domésticas e diaristas, somente duas vezes por semana. Então, a agência da  Filó faliu, e ela migrou como sócia do app Diaristas. Depois veio a pandemia e o app faliu. Ou seja, a Filomena hoje é diarista de cozinheira, forno e fogão como milhões de diaristas, e continua prestando serviço para ex e novos patrões. Ela conta tudo isso na stand-up Filomena 30 Anos de Peleja.

RE: Qual o papel social da personagem Filomena? 

GM: Educar e esclarecer com o humor. O riso é terapêutico, é político. Desde os primórdios eu falo de tudo com a personagem. Já falei sobre lixo, reciclagem, economia de água, desequilíbrio ecológico, política, fascismo, nazismo, higiene pessoal, culinária, paz, amor, guerra… Temas infindáveis. Visitei mais de 100 hospitais levando esperança e alegria para os pacientes. Eu filosofo com o público por  meio da personagem. Tenho um projeto social com a Filó, que se chama Fiolisofando. Fiz o primeiro com a filósofa Marcia Tiburi. A gente rodava uma comunidade pedindo palavras, que guardávamos numa caixa lacrada e ali já distribuíamos um convite para um café na escola da comunidade na semana seguinte. Abríamos a caixa de pandora, tirávamos as palavras e ali descobríamos e falávamos sobre tragédias pessoais e enigmas a serem desvendados. As nossas palavras em cima das palavras das caixas se transformavam em esperança. Segui fazendo este projeto sozinha enquanto o exílio da Márcia, na França. Agora queremos retornar.

RE: O que a Filomena falaria para a sua criadora, a Gorete Milagres, sobre esses  30 anos? 

GM: “Parabéns, dona Gorete! Parabéns e muitos anos de vida!” [Risos]

“O riso do outro cura tudo no outro e em mim.”

RE: Qual o segredo para fazer o outro rir?

GM: Acho que nunca terei uma resposta exata. Talvez ela nem exista!. Acho que não é segredo, é um mistério. É dom! É dádiva! É como uma magia. Fazer o outro rir, transformar um semblante, às vezes triste e opaco, num sorriso é a melhor sensação que eu já senti na minha vida. O riso do outro cura tudo no outro e em mim. Fazer rir é contagiante! O riso é refúgio. É o remédio necessário para a sobrevivência humana. O riso transforma, acolhe, muda mesmo que momentaneamente. Pode ser que o segredo pode estar relacionado com algo químico, genético? [Risos]

Foto: Gorete Milagres/ Divulgação

Serviço

FILOMENA 30 ANOS DE PELEJA, NA 49ª CAMPANHA DE POPULARIZAÇÃO DO TEATRO E DA DANÇA

Datas: 28 de janeiro, domingo, às 17h; e 30 de janeiro, terça-feira, às 20h, no

Sesc Palladium – R. Rio de Janeiro, 1.046 – Centro, Belo Horizonte; e 3 de fevereiro, sábado, às 20h, no Teatro Sesiminas – Rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia. 

Ingressos: R$ 25 –  disponíveis nos postos da Sinparc (pagamento em dinheiro ou débito) ou no site https://www.vaaoteatromg.com.br/detalhe-peca/belo-horizonte/filomena—30-anos-de-peleja (não é válida a meia-entrada para esses valores). 

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