Cientistas brasileiros e portugueses realizaram um estudo que revela que as ondas de calor no Brasil causaram em torno de 48 mil mortes de 2000 a 2018 — número superior ao de mortes por deslizamentos de terra. As mortes se deram por razões como: problemas circulatórios, doenças respiratórias e condições crônicas agravadas pela alta temperatura. Os dados inéditos foram compilados em estudo publicado na última quarta-feira (24). Essas ondas impactaram principalmente idosos, mulheres, negros e pessoas com baixa escolaridade. O físico Djacinto Monteiro dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderou a pesquisa que aponta um aumento expressivo na frequência e intensidade desses eventos climáticos extremos.
Segundo o estudo, houve um salto impressionante de 11 ondas de calor anuais na última década, em comparação com no máximo três na década de 1970. Os autores da pesquisa avaliam que, apesar de ter matado mais de 48 mil brasileiros em duas décadas, as ondas de calor têm menos visibilidade e recebem menos atenção em comparação com outros eventos climáticos catastróficos. “Mesmo com a alta mortalidade, as ondas de calor são desastres negligenciados no Brasil”, diz Renata Libonati, da UFRJ e coautora do estudo. O climatologista Carlos Nobre cita um motivo para desastres como alagamentos terem recebido maior atenção midiática do que as ondas de calor. “Outros desastres climáticos causam mortes imediatamente, como em enchentes. Já o aumento da temperatura por vezes leva dias, semanas ou até meses para matar.” Diante disso, os pesquisadores alertam para a necessidade de medidas preventivas, propondo a instalação de sistemas de alerta semelhantes aos utilizados para enchentes e deslizamentos, visando prevenir mortes decorrentes das altas temperaturas.